O nome de Deus e os tradutores da Bíblia
LOGO CEDO no segundo século, após a morte do último dos apóstolos, o desvio da fé cristã, predito por Jesus e seus seguidores, começou para valer. Filosofias e doutrinas pagãs infiltraram-se na congregação; surgiram seitas e divisões, e a pureza original da fé foi corrompida. E o nome de Deus deixou de ser usado.
À medida que esse cristianismo apóstata se alastrava, surgiu a necessidade de traduzir a Bíblia dos originais hebraico e grego para outras línguas. Como é que os tradutores verteram o nome de Deus em suas traduções? Em geral, usaram o equivalente de “Senhor”. Uma versão muito influente daquela época foi a Vulgata latina, tradução da Bíblia feita por Jerônimo para o latim cotidiano. Jerônimo verteu o Tetragrama (YHWH) substituindo-o por Dominus, “Senhor”.
Posteriormente, novas línguas, como o francês, o inglês e o espanhol começaram a surgir na Europa. Contudo, a Igreja Católica desestimulou a tradução da Bíblia para essas novas línguas. Assim, ao passo que os judeus, que usavam a Bíblia no idioma hebraico original, recusavam-se a pronunciar o nome de Deus ao se deparar com ele, a maioria dos “cristãos” ouvia a Bíblia ser lida em traduções em latim que não usavam o nome.
Com o tempo, o nome de Deus voltou a ser usado. Em 1278 ele apareceu em latim na obra Pugio fidei (Punhal de Fé), de Raimundo Martini, monge espanhol. Raimundo Martini usou a forma Yohoua. Logo depois, em 1303, Porchetus de Salvaticis terminou uma obra intitulada Victoria Porcheti adversus impios Hebraeos (Vitória de Porchetus Contra os Ímpios Hebreus). Nesta, ele, também, mencionou o nome de Deus, escrevendo-o nas formas variadas de Iohouah, Iohoua e Ihouah. Daí, em 1518, Pedro Galatino publicou uma obra intitulada De arcanis catholicae veritatis (Sobre Segredos da Verdade Universal) na qual escreveu assim o nome de Deus: Iehoua.
O nome apareceu pela primeira vez numa Bíblia em inglês em 1530, quando William Tyndale publicou uma tradução dos primeiros cinco livros da Bíblia. Nesta ele usou o nome de Deus, geralmente escrito Iehouah, em vários versículos, e numa nota nessa edição ele escreveu: “Iehovah é o nome de Deus . . . Ademais, cada vez que encontrardes SENHOR com letras maiúsculas (a menos que haja algum erro na impressão) é em hebraico Iehovah.” Daí surgiu o costume de usar o nome de Jeová em apenas poucos versículos e escrever “SENHOR” ou “DEUS” na maioria dos outros lugares onde ocorre o Tetragrama no texto hebraico.
Em 1611 publicou-se o que se tornou a mais amplamente usada tradução em inglês, a Versão Autorizada. Nesta, o nome consta quatro vezes no texto principal. (Êxodo 6:3; Salmo 83:18; Isaías 12:2; 26:4) “Jah”, abreviatura poética do nome, aparece no Salmo 68:4. E o nome aparece por inteiro em nomes de lugares, como “Jeová-Jiré”. (Gênesis 22:14; Êxodo 17:15; Juízes 6:24) Contudo, seguindo o exemplo de Tyndale, os tradutores na maioria dos casos substituíam o nome de Deus por “SENHOR” ou “DEUS”. Mas, se o nome de Deus podia aparecer em quatro versículos, por que não em todos os outros milhares de versículos que o contêm no hebraico original?
Algo similar acontecia na língua alemã. Em 1534 Martinho Lutero publicou a sua tradução completa da Bíblia, baseada nos idiomas originais. Por alguma razão ele não incluiu o nome de Deus mas usou substitutos, como HERR (“SENHOR”). Contudo, estava ciente do nome divino, visto que num sermão sobre Jeremias 23:1-8, que proferiu em 1526, ele disse: “Este nome Jeová, Senhor, pertence exclusivamente ao verdadeiro Deus.”
Em 1543 Lutero escreveu com sua franqueza característica: “Que eles [os judeus] aleguem agora que o nome Jeová é impronunciável, não sabem do que estão falando . . . Se pode ser escrito com pena e tinta, por que não deve ser pronunciado, que é muito melhor do que ser escrito com pena e tinta? Por que não dizem também que não se deve escrevê-lo, lê-lo ou pensar nele? Tudo considerado, há algo de errado nisso.” Não obstante, Lutero não havia retificado o assunto na sua tradução da Bíblia. Em anos posteriores, porém, outras Bíblias em alemão usaram o nome no texto de Êxodo 6:3.
A versão Matos Soares, 8.a edição, em português, tem a seguinte nota ao pé da página sobre Êxodo 6:3: “O texto hebreu diz: O meu nome Javé ou Jeová.” Também, uma nota ao pé da página sobre Êxodo 3:14, na versão Figueiredo (Barsa), diz: “Aquele que é: em hebraico: YHVH, que deve se pronunciar Javé, ficou sendo o nome próprio de Deus . . .” No entanto, ambas essas versões usam “Senhor”, ou “Adonai” em vez de “Jeová” nos seus textos.
Nos séculos seguintes, os tradutores bíblicos seguiram numa de duas direções. Alguns evitaram totalmente o uso do nome de Deus, ao passo que outros usaram-no extensivamente nas Escrituras Hebraicas, quer na forma Jeová, quer na forma Javé ou Yahweh. Consideremos duas traduções que evitaram o nome e vejamos por que, segundo seus tradutores, isto foi feito.
Por Que o Deixaram Fora
A tradução católica do Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, (1967), nos seus comentários introdutórios sobre o Pentateuco, diz: “Para exprimir a idéia de Deus, a língua hebraica dispõe de muitos termos. O mais freqüente (1.440 vezes no Pentateuco, mais de 6.800 em toda a Bíblia) é ‘Javé’ (ou ‘Jeová’, segundo uma pseudo pronúncia introduzida entre os séculos XVI e XIX), nome próprio, pessoal. . . . Todo leitor pode, por si, verificar o fato também nesta nossa versão, pois ‘Deus’ corresponde constantemente a Eloim, e ‘o Senhor’ a Javé1.”
Ao ler isso, surge imediatamente a pergunta: Se Javé é usado ‘mais de 6.800 vezes em toda a Bíblia’, conforme explicitamente declarado, por que os tradutores dessa Bíblia não usam coerentemente ‘Javé’ em sua tradução? Por que em tantos lugares usam meramente outro termo, ‘o Senhor’, para ‘corresponder’, como dizem, a Javé, e assim alterar o sabor do texto hebraico original?
Os tradutores dizem que seguiram a tradição judaica ortodoxa. Mas, é isso sábio para um cristão? Lembre-se, foram os fariseus, os preservadores da tradição ortodoxa judaica, que rejeitaram a Jesus e ouviram dele: “Invalidastes a palavra de Deus por causa da vossa tradição.” (Mateus 15:6) Tal substituição realmente enfraquece a Palavra de Deus.
Em 1952 publicou-se em inglês a Revised Standard Version (Versão Normal Revisada), das Escrituras Hebraicas, e esta Bíblia, também, usou substitutos para o nome de Deus. Isto foi notável, porque a original American Standard Version (Versão Normal Americana), da qual aquela foi uma revisão, usava o nome Jeová de ponta a ponta nas Escrituras Hebraicas. Portanto, a omissão do nome foi uma notável inovação. Por que foi feito isso?
No prefácio da Revised Standard Version lemos: “Por dois motivos a Comissão voltou ao emprego mais comum adotado na Versão Rei Jaime [isto é, omitir o nome de Deus]: (1) a palavra ‘Jeová’ não representa exatamente qualquer forma do Nome já usada em hebraico; e (2) o uso de qualquer nome próprio para o único e exclusivo Deus, como se existissem outros deuses dos quais ele tinha de ser distinguido, foi descontinuado no judaísmo antes da era cristã e é inteiramente inapropriado para a fé universal da Igreja Cristã.”
São sólidos esses argumentos? Bem, como já considerado, o nome Jesus não representa com exatidão a forma original do nome do Filho de Deus usada por seus seguidores. Contudo, isso não persuadiu a Comissão a evitar usar esse nome e usar em seu lugar um título, como “Mediador”, ou “Cristo”. Realmente, esses títulos são usados, mas em adição ao nome Jesus, não em lugar deste.
Quanto ao argumento de que não existem outros deuses dos quais o verdadeiro Deus tenha de ser diferençado, isto simplesmente não é verdade. Existem milhões de deuses adorados pela humanidade. O apóstolo Paulo observou: “Há muitos ‘deuses’.” (1 Coríntios 8:5; Filipenses 3:19) Naturalmente, existe apenas um Deus verdadeiro, como Paulo disse a seguir. Assim, uma grande vantagem de usar o nome do verdadeiro Deus é que isso o mantém separado de todos os deuses falsos. Além disso, se usar o nome de Deus é “inteiramente inapropriado”, por que ocorre ele quase 7.000 vezes nas Escrituras Hebraicas originais?
A verdade é que muitos tradutores não acharam que o nome, com a sua pronúncia moderna, não tivesse lugar na Bíblia. Eles o incluíram em suas traduções, e o resultado sempre tem sido uma tradução que dá mais honra ao Autor da Bíblia e segue mais fielmente o texto original. Algumas traduções amplamente usadas que incluem o nome são a tradução Valera (espanhol, publicada em 1602), a versão Almeida original (português, publicada em 1681), a tradução Elberfelder original (alemão, publicada em 1871), bem como a American Standard Version (inglês, publicada em 1901). Algumas traduções, destacadamente A Bíblia de Jerusalém, também usam consistentemente o nome de Deus, mas esta com a forma Iahweh. A Tradução Brasileira (1917) usa a forma “Jehovah” e a tradução do Centro Bíblico Católico usa “Javé” para o nome divino.
Leia a seguir os comentários de alguns tradutores que incluíram o nome em suas traduções e compare a argumentação deles com a dos que omitiram o nome.
Por Que Outros Incluíram o Nome
Os tradutores da American Standard Version, de 1901, fizeram o seguinte comentário: “[Os tradutores] chegaram à conclusão unânime de que certa superstição judaica, que considerava o Nome Divino sagrado demais para ser pronunciado, não mais deve predominar na versão em inglês ou em qualquer outra versão do Antigo Testamento . . . Esse Nome Memorial, explicado em Êx. iii. 14, 15, e enfatizado como talvez após vez no texto original do Antigo Testamento, designa a Deus como o Deus pessoal, o Deus do pacto, o Deus da revelação, o Libertador, o Amigo de seu povo . . . Este nome pessoal, com sua riqueza de relacionamentos sagrados, é agora restaurado no lugar no texto sagrado ao qual pertence com inquestionável direito.”
Similarmente, no prefácio da tradução alemã original da Elberfelder Bibel, lemos: “Jeová. Retivemos este nome do Deus do Pacto de Israel porque o leitor já por anos acostumou-se a ele.”
Steven T. Byington, tradutor da The Bible in Living English (A Bíblia em Inglês Vivo) explica por que ele usa o nome de Deus: “A maneira de escrevê-lo e a pronúncia não são de suma importância. O que é de suma importância é deixar claro que se trata de um nome pessoal. Há vários textos que não podem ser corretamente entendidos se traduzirmos esse nome por um substantivo comum, como ‘Senhor’, ou, muito pior ainda, por um adjetivo substantivado [por exemplo, o Eternal].”
O caso de outra tradução, de J. B. Rotherham (em inglês), é interessante. Ele usou o nome de Deus em sua tradução, mas preferiu a forma Yahweh. Contudo, numa obra posterior, Studies in the Psalms (Estudos dos Salmos), publicada em 1911, ele voltou à forma Jeová. Por quê? Ele explica: “JEOVÁ. — O emprego desta forma do nome Memorial (Êxo. 3:18) na presente versão do Saltério não provém de qualquer dúvida quanto à pronúncia mais correta ser Javé; mas unicamente da evidência prática, pessoalmente selecionada, do desejo de se manter em contato com o ouvido e o olho públicos numa questão desta espécie, em que a coisa principal é o fácil reconhecimento do nome Divino tencionado.”
No Salmo 34:3 exorta-se aos adoradores de Jeová: “Magnificai comigo a Jeová, exaltemos juntos o seu nome.” Como podem os leitores de traduções bíblicas que omitem o nome de Deus corresponder plenamente a essa exortação? Os cristãos alegram-se de que pelo menos alguns tradutores tiveram a coragem de incluir o nome de Deus em sua tradução das Escrituras Hebraicas, preservando assim o que Smith e Goodspeed chamam de “sabor do texto original”.
No entanto, a maioria das traduções, mesmo quando incluem o nome de Deus nas Escrituras Hebraicas, omitem-no das Escrituras Gregas Cristãs, o “Novo Testamento”. Qual o motivo disso? Há alguma justificativa para incluir o nome de Deus nessa última parte da Bíblia?
O nome de Deus e o “Novo Testamento”
O LUGAR do nome de Deus é inabalável, nas Escrituras Hebraicas, o “Antigo Testamento”. Embora os judeus por fim deixassem de pronunciá-lo, suas crenças religiosas os impediram de remover o nome ao fazer cópias de manuscritos mais antigos da Bíblia. Assim, o nome de Deus ocorre com mais freqüência nas Escrituras Hebraicas do que qualquer outro nome.
No caso das Escrituras Gregas Cristãs, o “Novo Testamento”, a situação é diferente. Manuscritos do livro de Revelação, ou Apocalipse, (o último livro da Bíblia), contêm o nome de Deus em sua forma abreviada, “Jah”, (na palavra “Aleluia”). Mas, fora disso, nenhum antigo manuscrito grego dos livros de Mateus a Revelação hoje disponível contém o nome de Deus por extenso. Significa isso que o nome não devia figurar ali? Isto seria surpreendente, em vista do fato de que os seguidores de Jesus reconheciam a importância do nome de Deus, e que Jesus nos ensinou a orar pela santificação do nome de Deus. Portanto, o que aconteceu?
Para entender isso, lembre-se de que os manuscritos das Escrituras Gregas Cristãs que temos hoje não são os originais. Os livros originais escritos por Mateus, Lucas e outros escritores bíblicos foram bastante usados e rapidamente se gastaram. Assim, foram feitas cópias, e quando estas se gastaram, cópias adicionais dessas cópias foram feitas. Isto é o que devíamos esperar, visto que as cópias em geral eram feitas para ser usadas, não preservadas.
Existem hoje milhares de cópias das Escrituras Gregas Cristãs, mas a maioria foi feita durante e após o quarto século de nossa Era Comum. Isto sugere uma possibilidade: Aconteceu algo com o texto das Escrituras Gregas Cristãs antes do quarto século que resultou na omissão do nome de Deus? Os fatos provam que sim.
O Nome Estava Lá
Podemos ter certeza de que o apóstolo Mateus incluiu o nome de Deus no seu Evangelho. Por quê? Porque ele o escreveu originalmente em hebraico. No quarto século, Jerônimo, que traduziu a Vulgata latina, disse: “Mateus, também chamado Levi, e que de publicano se tornou apóstolo, primeiro de tudo produziu um Evangelho de Cristo na Judéia, na língua hebraica . . . Não se tem suficiente certeza de quem o traduziu mais tarde para o grego. Ademais, o próprio em hebraico está preservado até hoje na biblioteca de Cesaréia.”
Visto que Mateus escreveu em hebraico, é inconcebível que não tenha usado o nome de Deus, especialmente ao citar partes do “Antigo Testamento” que continham o nome. No entanto, outros escritores da segunda parte da Bíblia escreveram para um público mundial, na língua internacional daquela época, o grego. Assim, eles não citaram dos escritos hebraicos originais, mas sim da versão Septuaginta grega. E mesmo o Evangelho de Mateus foi por fim traduzido para o grego. Será que o nome de Deus aparecia nesses escritos gregos?
Bem, alguns fragmentos antiqüíssimos da Versão Septuaginta, que até mesmo existiam nos dias de Jesus, sobreviveram até os nossos dias, e é notável que o nome pessoal de Deus aparece neles. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (Volume 2, página 512, em inglês), diz: “Descobertas textuais recentes lançam dúvida sobre a idéia de que os compiladores da LXX [Septuaginta] traduziram o tetragrama YHWH por kyrios.
Os mais antigos MSS LXX (fragmentos) agora disponíveis trazem o tetragrama escrito em caracteres heb[raicos] no texto Gr[ego]. Este costume foi continuado por posteriores tradutores judaicos do A[ntigo] T[estamento] nos primeiros séculos A.D.”Portanto, quer Jesus e seus discípulos lessem as Escrituras em hebraico, quer em grego, eles se deparariam com o nome divino.
Assim, o professor George Howard, da Universidade da Geórgia, EUA, fez o seguinte comentário: “Quando a Septuaginta que a igreja do Novo Testamento usava e citava continha a forma hebraica do nome divino, os escritores do Novo Testamento sem dúvida incluíam o Tetragrama em suas citações.” (Biblical Archaeology Review, março de 1978, página 14) Que autoridade teriam eles de agir de outra maneira?
O nome de Deus permaneceu nas traduções gregas do “Antigo Testamento” por mais algum tempo. Na primeira metade do segundo século EC, o prosélito judaico Áquila fez uma nova tradução das Escrituras Hebraicas para o grego, e nesta ele representou o nome de Deus pelo Tetragrama em antigos caracteres hebraicos. No terceiro século, Orígenes escreveu: “E nos manuscritos mais exatos O NOME aparece em caracteres hebraicos, embora não nos [caracteres] hebraicos modernos, mas sim nos mais antigos.”
Mesmo no quarto século, Jerônimo escreveu no seu prólogo para os livros de Samuel e Reis: “E encontramos o nome de Deus, o Tetragrama [יהוה], em certos volumes gregos mesmo até hoje, expresso em letras antigas.”
A Remoção do Nome
Naquela época, no entanto, a apostasia predita por Jesus já havia tomado forma, e o nome, embora aparecesse nos manuscritos, era cada vez menos usado. (Mateus 13:24-30; Atos 20:29, 30) Por fim, muitos leitores nem sabiam mais o que ele era, e Jerônimo diz que em sua época “certos ignorantes, devido à similaridade dos caracteres, ao encontrarem [o Tetragrama] nos livros gregos, acostumaram-se a ler ΠΙΠΙ”.
Em cópias posteriores da Septuaginta, o nome de Deus foi removido e substituído por palavras como “Deus” (The·ós) e “Senhor” (Ky·ri·os). Sabemos que isso aconteceu porque existem fragmentos anteriores da Septuaginta em que o nome de Deus estava incluído, e cópias posteriores dessas mesmas partes da Septuaginta em que o nome de Deus foi removido.
O mesmo ocorreu no “Novo Testamento”, ou Escrituras Gregas Cristãs. O professor George Howard prossegue dizendo: “Quando a forma hebraica para o nome divino foi eliminada em favor de substitutos em grego na Septuaginta, foi também eliminada das citações da Septuaginta no Novo Testamento. . . . Não tardou até que a igreja gentia perdesse o nome divino exceto na medida em que era retratado nos substitutos abreviados ou lembrado por eruditos.”
Portanto, ao passo que os judeus se recusavam a pronunciar o nome de Deus, a igreja cristã apóstata cuidou de removê-lo completamente dos manuscritos de língua grega de ambas as partes da Bíblia, bem como de traduções em outras línguas.
A Necessidade do Nome
Posteriormente, como já vimos, o nome foi reintegrado em muitas traduções das Escrituras Hebraicas. Mas, que dizer das Escrituras Gregas? Bem, tradutores e estudantes da Bíblia vieram a entender que, sem o nome de Deus, algumas partes das Escrituras Gregas Cristãs são dificílimas de entender corretamente. Reintegrar o nome é de grande ajuda em aumentar a clareza e a compreensão dessa parte da Bíblia inspirada.
Por exemplo, considere as palavras de Paulo aos romanos, conforme constam na versão Almeida, atualizada: “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo.” (Romanos 10:13) O nome de quem devemos invocar a fim de sermos salvos? Visto que amiúde se refere a Jesus como “Senhor”, e um texto até mesmo diz: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo”, devemos concluir que Paulo ali falava a respeito de Jesus? — Atos 16:31, versão Almeida, atualizada.
Não, não devemos. Uma referência de Romanos 10:13, na mesma versão Almeida, indica Joel 2:32, nas Escrituras Hebraicas. Se verificar essa referência, verificará que Paulo realmente citava as palavras de Joel na sua carta aos romanos; e o que Joel disse no hebraico original foi: “Todo aquele que invocar o nome de Jeová salvar-se-á.” (Tradução do Novo Mundo) Sim, Paulo queria dizer ali que devemos invocar o nome de Jeová. Assim, embora tenhamos de crer em
Jesus, a nossa salvação está ligada intimamente a uma correta apreciação do nome de Deus.
Este exemplo demonstra como a remoção do nome de Deus das Escrituras Gregas contribuiu para confundir Jesus com Jeová na mente de muitos. Indubitavelmente, contribuiu grandemente para o desenvolvimento da doutrina da Trindade!
Deve o Nome Ser Reintegrado?
Teria o tradutor direito de reintegrar o nome, em vista do fato de que manuscritos existentes não o contêm? Sim, ele teria este direito. A maioria dos léxicos gregos reconhece que amiúde a palavra “Senhor” na Bíblia refere-se a Jeová. Por exemplo, na parte sob a palavra grega Ky·ri·os (“Senhor”), A Greek and English Lexicon of the New Testament (Léxico Grego e Inglês do Novo Testamento, publicado em 1859) de Robinson, diz que significa “Deus qual Senhor Supremo e soberano do universo, usualmente na Sept[uaginta] para o heb[raico] יְהוָֹה Jeová”. Portanto, em lugares onde os escritores das Escrituras Gregas Cristãs citam as anteriores Escrituras Hebraicas, o tradutor tem o direito de traduzir a palavra Ky·ri·os por “Jeová”, toda vez que o nome divino aparecia no hebraico original.
Muitos tradutores têm feito isto. A partir de pelo menos o século 14, numerosas traduções em hebraico foram feitas das Escrituras Gregas Cristãs. Que fizeram os tradutores ao se deparar com citações do “Antigo Testamento” em que o nome de Deus aparecia? Amiúde, sentiram-se obrigados a reintegrar o nome de Deus ao texto. Muitas traduções de partes ou de todas as Escrituras Gregas Cristãs para o hebraico contêm o nome de Deus.
Traduções para línguas modernas, especialmente as usadas por missionários, têm seguido esse exemplo. De modo que muitas traduções das Escrituras Gregas em línguas africanas, asiáticas, americanas e das ilhas do Pacífico usam o nome Jeová liberalmente, de modo que os leitores podem ver claramente a diferença entre o Deus verdadeiro e os falsos. O nome tem aparecido, também, em traduções em línguas européias.
Uma tradução que destemidamente reintegra o nome de Deus, com boa base, é a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs. Esta tradução, atualmente disponível em 11 idiomas modernos, incluindo o português, reintegrou o nome de Deus toda vez que um trecho das Escrituras Hebraicas que o contém é citado nas Escrituras Gregas. Ao todo, o nome ocorre com base sólida 237 vezes nessa tradução das Escrituras Gregas.
Oposição ao Nome
Apesar dos esforços de muitos tradutores de reintegrar o nome de Deus na Bíblia, sempre têm havido pressões religiosas para eliminá-lo. Os judeus, embora deixando-o nas suas Bíblias, recusavam-se a pronunciá-lo. Cristãos apóstatas do segundo e terceiro séculos removeram-no ao fazer cópias dos manuscritos bíblicos gregos e omitiram-no ao fazer traduções da Bíblia. Tradutores em tempos modernos o têm removido, mesmo no caso em que baseiam suas traduções no hebraico original, onde ele ocorre quase 7.000 vezes. (Ocorre 6.973 vezes no texto hebraico da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, edição de 1983).
Como encara Jeová os que removem o seu nome da Bíblia? Se fosse escritor, o que acharia de alguém que extensivamente removesse o seu nome do livro que você escreveu? Tradutores que objetam ao nome, fazendo isso à base de problemas de pronúncia, ou por causa da tradição judaica, podem ser comparados aos a quem Jesus disse que ‘coam o mosquito, mas engolem o camelo!’ (Mateus 23:24) Eles tropeçam nesses problemas menores mas acabam criando um problema maior — por remover o nome do maior personagem no universo do livro que ele inspirou.
O salmista escreveu: “Até quando, ó Deus, continuará a vituperar o adversário? Acaso o inimigo continuará para sempre a tratar teu nome com desrespeito?” — Salmo 74:10.